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Fera nas pistas e fora delas

Hexacampeão mundial de skate e dono de diversas medalhas do X-Games, Sandro Dias, o Mineirinho, foi escolhido para apadrinhar o projeto Academia do Skate. E aceitou o desafio de visitar a pista do projeto dando dicas e conversando com os participantes. “Para mim é uma felicidade mito grande servir de inspiração. Eu não tive uma oportunidade como essa quando comecei a praticar. Hoje, me deparo sendo padrinho de um projeto como esse e isso só me motiva mais. Skate é vida, faz muito bem”. Mais do que acostumado às arriscadas manobras no ar, o profissional concilia a vida de atleta com a missão de atuar como diretor esportivo da Confederação Brasileira de Skate (CBSk). Em entrevista ao projeto Academia do Skate, ele fala de carreira, futuro do esporte e, é claro, de como foi participar do projeto.

Como começou sua carreira no skate?

Sou filho de um empresário e me formei em administração de empresas. Assustei meu pai quando informei que queria ser skatista profissional. Ele trabalhava em um negócio da família no ramo de mineração. Ficou enciumado, questionando o porquê de abrir mão de um trabalho certo por algo como o skate. Mas eu não tinha dúvidas. Queria construir minha própria história. No começo foi complicado, porque tinha muito preconceito até pela falta de pontos para a prática. Precisávamos explorar alguns pontos que não foram criados para isso e éramos taxados como marginais, moleques de rua ou até mesmo drogados. Era uma época difícil para o skate por falta de conhecimento e informação. Com o tempo, percebi que estava no caminho certo, fomos abrindo o caminho e aprendi a viver disso.

Qual a importância do Academia do Skate na formação de crianças e adolescentes?

É uma iniciativa fantástica, que não tive na minha época, quando comecei a andar de skate, mas fico feliz em ver que os jovens de hoje terão. Pratico o esporte há 33 anos, quando ele ainda nem era considerado modalidade esportiva. Não tive incentivo e não existiam competições. Andávamos por prazer, sem nunca imaginar que poderia dar certo ou ser uma profissão. Hoje, vejo iniciativas como essas como uma forma de mostrar à juventude o caminho do bem. Encaminhar essa molecada para o esporte é uma forma de mantê-los longe de muitas coisas ruins que existem no mundo. Com talento e empenho, podem se tornar grandes atletas. Mas, se não der certo, ao menos teremos bons cidadãos.

Qual foi a grande sacada do projeto?

Foi conseguir levar o skate a outros públicos, para dentro do shopping, para outras pessoas experimentarem. A estrutura foi totalmente voltada para a iniciação. Quem participou não chegou lá e se deparou com uma rampa monstruosa, encontrou uma rampa de iniciação, que deu oportunidade às pessoas de experimentar. Trocamos ideais, tiramos dúvidas, andamos de skate juntos. Os participantes aprenderam comigo e com os instrutores, e nós aprendemos com eles. E assim foi.

O skate virou esporte olímpico recentemente. Qual a importância desse marco para a história da modalidade?

Há muito tempo esperávamos por esse anúncio, quase dez anos de espera, e a comunidade do skate recebeu com muita alegria a decisão. A gente queria que fosse aprovado a tempo da Rio 2016 pela força do skate no Brasil. Infelizmente, não deu certo, mas a campanha se fortaleceu. Teremos mais mídia voltada para a modalidade, o mercado vai melhorar, mas precisamos ficar atentos também para preservarmos a verdadeira essência do skate. O esporte já existe e não pode mudar por conta das Olimpíadas.

O nível do skate no Brasil mudou após esse marco?

Com certeza. Ao virar esporte olímpico, os olhares ficam mais atentos para a modalidade e a procura fica maior. Tenho um acampamento infantil voltado para a prática e já começamos a perceber esse aumento na movimentação. Então foi importante para que o pai passe a incentivar ao invés de reprovar a prática do filho. Hoje o Brasil é uma das grandes potências do skate mundial e, se tivesse Olimpíada nesse ano, certamente teríamos medalhas. Em 2020, então, as chances aumentam ainda mais, pois estão surgindo novos nomes.

Que conselho você daria aos iniciantes no esporte?

Primeiramente, que não comecem a andar de skate pensando apenas em serem profissionais reconhecidos ou que a vida de atletas da categoria é mil maravilhas. Nada para mim veio fácil. São 33 anos de prática para chegar a construir o que eu consegui. E muitos não conseguiram. Com o skate, o iniciante vai aprender a ser persistente, paciente e ter força de vontade. O skate ensina muito e é isso que eu gosto de passar. O resto é consequência.

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